sábado, 2 de junho de 2012

"Corpos presentes" na ausência da urbanização - Luana Della-Flora


A modernidade tem como filho primogênito o fenômeno da urbanização e esta, por sua vez, pode ser exemplarmente representada pela cidade de São Paulo – mais especificamente pelo Centro da capital paulista.

 O centro de São Paulo é um paradoxo (de) concreto. O antigo e o moderno: prédios e construções que fazem você se sentir em um filme de época, até ouvir alguém gritar: "Olha o DVD, três por dez!". A liberdade e a corrupção: greves, manifestações e todos os tipos de tentativas de mudança em algum setor social ocorrem ali, aos olhos dos senhores engravatados que assistem inertes lá de cima do prédio da Prefeitura a miséria de um povo tão rico. A arte e o entulho: crianças cantando sertanejo universitário, hippies tocando flauta, deficientes desenhando em azulejos, mendigos tocando Bob Marley e o moço que imita o Michael Jackson dançando Thriller: tudo isso em meio a uma concentração absurda de embalagens, poeira e tudo mais que denominamos lixo.

Milhares de pessoas e carros – indo e vindo –, alguns moradores de rua dormindo, taxistas esperando, policiais conversando, vendedores gritando entre as ruas sujas e ao mesmo tempo lindas que compõem o famoso centro velho, "ao cheiro" de lixo somado ao cheiro da pressa – que é tanta que se torna impossível não senti-la exalando de toda e qualquer pessoa que por ali passa.

Foi nesse cenário catastrófico, contraditório, paradoxal e bonito (porque ainda há beleza no caos) que o artista britânico Antony Gormley decidiu espalhar estátuas de corpos humanos em tamanho natural feitas de ferro fundido – cujo molde é o corpo do próprio artista. As estátuas estão distribuídas pelas ruas e prédios do Centro, onde permanecem presas por cabos de aço no topo das construções.





Além das 31 estátuas, o artista também expõe no Centro Cultura Banco do Brasil instalações, modelos, maquetes, gravuras, fotografias e vídeos da mostra "Corpos presentes".


 



            Se a pretensão do artista plástico era tornar os corpos de fato presentes, chamando atenção das pessoas que por eles passam, funcionou. Eu trabalho no Centro e da janela da minha sala é possível ver duas das estátuas de Antony e é possível também verificar a reação das pessoas ao se depararem com elas: algumas, mais descontraídas, tiram fotos e brincam; outras, mais tímidas, apenas olham desconfiadas.

            As estátuas que ficam no topo dos prédios são um show à parte. Eu mesma, a primeira vez que vi essa cena da minha janela, achei que estava prestes a assistir a um suicídio. 


Mas porque será que isso nos choca tanto? Não vivemos nós, também, na beira de um precipício, com pressa, com medo, com dúvida?

Tão preocupados em nos equilibrar em cima dessa linha estreita e flexível que configura a relação de espaço e tempo a que estamos submetidos, não ouvimos os sons que a cidade grita, não enxergamos a beleza dos paradoxos que a cidade apresenta, não reparamos nos rostos que vem ao nosso encontro: corremos para chegar logo em casa e então poder reclamar da solidão.

            Quando Antony coloca um homem de ferro na beira de um abismo para tentar chamar a atenção de outro homem de ferro a beira de um abismo talvez ele esteja pedindo apenas uma coisa: pare. Repare. A arte está na rua, e não apenas quando artistas decidem expor suas obras ali. A arte está na rua quando alguém decide parar para vê-la: a própria rua, a própria arte.



 A EXPOSIÇÃO
Corpos Presentes – Still Being. Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (r. Álvares Penteado, 112, Centro, São Paulo, SP). Até 15/7. De 3ª a dom., das 9h às 21h. Grátis.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Sentir Pra Ver
Gêneros da Pintura na Pinacoteca de São Paulo

Juliana Simões


A exposição Sentir Pra Ver reúne uma seleção de 14 reproduções fotográficas de obras do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, permitindo que todas as pessoas possam apreciar, por meio do sentidos, com ou sem o uso da visão, alguns dos principais temas das artes plásticas, tais como retratos, natureza/morta, cenas, paisagens e abstrações, pintados por artistas representativos da arte brasileira entre os séculos XIX e XX.





Reprodução do Quadro de Navarro da Costa - Porto de Leixões

Maquete do Quadro (a qual você podia tocar)
 
Imagem em alto relevo
Além da maquete, do alto relevo e da próprias reprodução do quadro, havia um texto alto explicativo que ilustrava com palavras p que a obras retratava. Era algo do tipo:

Reprodução fotográfica
Essa paisagem mostra o Porto de Leixõe, construída em finais do século XIX, no norte de Portugal. A visão do artista parece ser feita a partir do mar. Alguns barcos de pequeno porte localizados na esquerda, lembrando canoas paradas no porto. A água do mar é representada de forma muito colorida e transparente e nela podemos ver ondas, o reflexo dos barcos e das copas das arvores que se encontram mais atrás. Um pouco mais ao fundo, vemos o cais, uma ponte e uma serie de arvores com folhas verdes e amarelas. Finalmente no ultimo plano, o céu.
Essa marinha foi feita pelo menos vinte anos após a Marinha de Almeida Junior. Nessa tela, pintada durante o período em que permaneceu na Europa, o artista brasileiro Navarro da Costa, parece mais livre para representar as formas e as cores, utilizando pinceladas mais soltas, criando massas vibrantes de cores, e dando destaque aos tons de amarelos, verdes e azuis.
Segue abaixo mais algumas imagens das reproduções, reparem na semelhança.


Reprodução - Di Cavalcanti - Sem Titulo (Figura sentada apoiada na mesa), sem data
Olhos sobre papelão
Dimensão da obra original: 39,5 x 49 cm
Doação Rui Brasil Alves, 1999

Quadro

Maquete



Pedro Alexandrino
Natureza – morta (uvas e pêssegos), sem data
Oleo sobre tela
Dimensão da obra original: 60 x 73 cm
Doação Família Azevedo Marques, 1949

Alto-relevo


Maquete


"A realização desta exposição, porém, não seria possível sem a fundamental participação do Núcleo de Ação Participativa da Pinacoteca de SP e de seu Programa Educativo para Públicos Especiais. Implantado no ano de 2003, o Programa tornou-se referencia nacional e internacional de ações sócio educativas em museus e instituições culturais, para pessoas com deficiências."

Pinacoteca
Endereço: Praça da Luz, 2
Até 15 de julho
Terça a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h30)
Ingresso: R$ 6; grátis aos sábados e quintas-feiras


Conforme informações da própria exposição, os quadros foram selecionados a partir de temáticas semelhantes, contudo representadas de formas diferentes, ampliando assim as relações e significados que essas obras poderão suscitar nos visitantes.




Para garantir uma participação mais efetiva e autônoma de todos os públicos, respeitando suas diferenças e necessidades, a exposição sentir pra ver foi concebida segundo os padrões de acessibilidade universal, dirigidos principalmente as pessoas em cadeira de rodas, com mobilidade reduzida ou perda parcial ou total de visão. 
Seguindo tal critério, e para estimular e ampliar o conhecimento e a apreciação da arte, foram elaborados para essa exposição recursos de apoio multissensoriais. Entre eles estão reproduções em relevo, maquetes, extratos sonoros, poemas e textos investigativos disponibilizados em dupla leitura (tinta com letras ampliadas e Braille) para pessoas com deficiências visuais.




Para que as pessoas que não possuem deficiência visual, foi elaborado um jogo onde as elas tinham que colocar uma venda e tentar descobrir os temas, as cores e as formas, assim como as pessoas com deficiência certamente saberiam.







Eu tentei... mas posso dizer certamente que não é nada fácil. É possível sentir as curvas, o alto-relevo, mas impossível entender o que é cada imagem. Não foi uma das sensações mais agradáveis.








Na Exposição ficavam essas mesas com as reproduções dos quadros, que nesse caso era um quadro de Navarro da Costa, Porto de Leixões, Óleo Sobre Tela - Dimensão da obra original: 81 x 100 cm - Doação família Azevedo Marques, 1949



 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cruz-Diez - Circunstância e Ambiguidade Da Cor




Tive a oportunidade de visitar a mostra "Circustância e Ambiguidade Da Cor" do artista venezuelano Carlos Cruz-Diez, conhecido como um dos pioneiros da arte cinética. Pude notar através de suas obras, todas ricas em ilusões óticas, composições policromáticas que passam uma certa sensação de mobilidade dos reflexos, pois que ao deslocamento do espectador, os feixes luminosos transmitem uma sensação de que a obra possui muito mais cores do que nela realmente é constituída.




Os quadros do artista foram feitos em cromografia sobre pvc, alguns deles abaixo:









Inducción a Doble Frecuencia Gatum
cromografia sobre PVC
180 x 60 cm













     Inducción de Amarillo Vertical                                                                                      Inducción al Rojo Vertical   
          cromografia sobre PVC                                                                                               cromografia sobre PVC
                   180 x 60 cm                                                                                                          180 x 60 cm







Color Aditivo Triangular 
cromografia sobre PVC
180 X 60 cm  






Physichromie 71
cromografia sobre aluminio
100 x 200 cm







Physichromie Panam 73
cromografia sobre aluminio
150 x 150 cm






Nome da obra não informada
Perspectiva de obra similar em adesivo
 aprox. 100 x 600 cm





Essas obras são interessantes, são tiras plásticas penduradas de várias cores, e que certamente fazem o espectador ter a sensação de estar "tomando um banho" de cores. 














Ducha de Inducción Cromatica
montagem de plexiglass
200 x 100 Ø cm


- TODAS AS DUCHAS POSSUEM O MESMO TAMANHO E SÃO FEITAS DO MESMO MATERIAL -












Posso dizer que a minha visita a essa exposição foi muito proveitosa, pois pude apreciar obras interessantes que brincam com os olhos, com a riqueza das cores, através de truqes ópticos bem empregados, que conferem a exposição um experiencia  artística interessante. O estilo das obras que relembra os moldes do op-art,  e as diferentes formas de percepção que o espectador pode auferir da visita, garantem a mostra, uma beleza estética pra lá de modernista.






A exposição está aberta desde 12 de abril, e durará até o dia 02 junho (ano 2012)

 Horário de Funcionamento: Segunda a sexta, 10h às 19h. Sábado, 12h às 16h.





Carlos Eduardo Sanvidotti Gurgel - 41111682



Cris Conde - Vernissage



Mark Halliden - Com o objetivo de trazer cultura e arte para a pequena Aldeia da Serra, a Glen Arte é a retomada de um projeto iniciado há 24 anos. Com a sua re-inauguração no dia 11 de fevereiro de 2012, a exposição de Cris Conde é a primeira apresentada. Não é permitido a fotografia das obras, porém todas estão disponíveis no site da galeria para a visualização.
Entrada





 Haviam duas salas nesta pequena galeria, a primeira era bem iluminada, com várias obras de diversos artistas, muitas janelas e uma pequena área de espera, a segunda sala era pintada completamente de branco, com luz iluminando apenas as obras, dando assim, ênfase à arte e retirando qualquer distração.

primeira sala


A artista Cris Conde, nascida no Rio de Janeiro, pinta não apenas óleo sobre tela, mas desenhos, cerâmicas e azulejos. Na maioria de suas obras, são pintadas mulheres sensuais com muita ênfase em curvas. Todas obras tem uma qualidade muito orgânica e apresentam traços delicados, tanto as coloridas quanto as monocromáticas, ignorando a busca pela forma perfeita, com um caráter quase que cubista.
Sem título - óleo sobre tela 27cm X 35cm

Sem título - óleo sobre tela 110cm X 100cm

Sem título - desenho 100xm X 75cm


Eu particularmente não gostei muito da exposição, achei as obras um tanto quanto sem graça, simples, e repetitivas, mas encontrei umas que gostei e chamaram minha atenção, são elas:

Sem título - óleo sobre tela 180cm X 160cm

Gostei das cores utilizadas, especialmente do jeito em que os diferentes tons de vermelho contrastam com o preto e branco, e a quebra desta 'monocromia' com o detalhe roxo no canto inferior direito.



Sem título - óleo sobre tela 200cm X 230cm

Além do contraste das cores, a sobreposição das mesmas faces se contrastam com a diferença de colares utilizadas em cada pescoço.


Entrada Gratuita
Glen Arte
Av. dos Pássaros, 45. 
Aldeia da Serra | 06519-499
Santana de Parnaíba - SP.
55 11 4192.3812/2824.

De terça à domingo, das 10h às 19h


http://www.glenarte.com.br


Alberto Giacometti na Pinacoteca do Estado de São Paulo

Graziela Massaglia Rovito 3BPM


Essa é a primeira mostra individual de Giacometti no Brasil e conta com aproximadamente 200 obras. São pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e artes decorativas modernistas que mostram toda a capacidade criativa em produções entre cinco décadas, de 1910 a 1960. Uma chance única de conferir ao vivo “Le Nez” (O nariz, 1949) e “Le Couple” (O casal, 1927)


Para realizar esse evento a maioria dos itens foi trazida da “Fondation Alberto et Annette Giacometti” de Paris depois de três anos de conversas e negociações. A curadoria é feita por Véronique Wiesinger, diretora da fundação francesa que buscou apresentar todas as linguagens do percurso artístico de Giacometti dispostas em ordem cronológica e temática onde são apresentados até mesmo os retratos do artista executados por seu pai e por seu padrinho, ambos pintores.



 Le Nez


Um dos artistas mais importantes do século XX nascido na Suiça, Alberto Giacometti se instala em Paris em 1992 onde permanece até sua morte. De 1925 a 65 sua produção acompanha os grandes movimentos da modernidade: cubismo, surrealismo, abstração e retorno à figuração sem nunca desviar-se de um caminho exigente traçado de maneira independente.

Era proibido tirar fotos no local, porém consegui algumas:  


"L' homme qui marche"  
                                                                                                             




''O olhar de Giacometti era percorrido por estranhos fulgores, seu corpo vibrava em todos os seus membros, ele só seguia os estímulos que governavam sua mãos, seus braços, suas pernas, estava em êxtase.Obseravando atentamente os dois rostos, compreendi que o segredo que permitia a Lotar não respirar, se era o modelo ideal dessa escultura, era porque Eli estava morto. Ele não respirava, não pensava, permanecia concentrado ao máximo. Uma corrente elétrica ligava o artista ao modelo, os englobava em uma cumplicidade real. Brincavam juntos, sem bola, nem rede.'' 

Giorgio Soavi,1966 

(Trecho este que lembra muito ''O Poder de Pigmalião'' visto em aula)


A obsessão pela representação da figura humana revela-se também na sua produção pictórica e nos seus desenhos, onde a linha assume uma grande expressividade e liberdade na caracterização das formas e dos volumes.


''Figura inclassificável, Giacometti se empenha em criar uma obra que procura responder à várias questões fundamentais sobre a prática artística sempre atuais ao significado e os meios de representação,  relação da obra de arte com o espaço, o papel da arte e do artista. Além disso, aborda questões filosóficas essenciais como a relação entre sujeito e aquilo que o rodeia, a inscrição no tempo e o papel da memória rejeitando fórmulas prontas que atrapalham nossa percepção.

Giacometti procurou traduzir da forma mais exata possível o que via ao convidar o observador a compartilhar sua visão, encoraja-os a abrir os olhos...'' Veronique Wiesinguer''


Local: Pinacoteca do Estado
Endereço: Praça da luz, 02 – São Paulo
Data: de 24 de março a 17 de junho
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Entrada: R$ 6. Grátis aos sábados e às quintas